Foi numa tarde do ano de 2007. Antes daquele dia não me lembro de uma vez sequer, que eu tenha tido uma explosão de raiva no meio da rua e corresse atrás de alguém procurando por confusão.
Até aquele momento, era da minha personalidade evitar ao máximo qualquer confronto direto com alguém, mesmo sabendo que era minha a razão. Principalmente se esse alguém fosse um desconhecido. Desconhecidos me intimidavam.
Que pisassem no meu pé, passassem na minha frente na fila do pão, que me voltassem o troco faltando algumas moedas. Eu achava que não valia a pena brigar por “pouca coisa”. Até aquele ano de 2007, eu preferia mil vezes conquistar a indiferença das pessoas do que colecionar desafetos.
Mas toda vez que você se cala, vai guardando frustrações dentro de si. Então chega o instante em que Boomm!Cai a derradeira gota, e o copo transborda.
Estava eu a andar em uma das ruas movimentadas de Goiânia. Pouco espaço pra muita gente. Quando escuto a voz. Era um senhor:
____ Sai da frente! Sai da frente filha!
E ao terminar a frase, me empurrou bruscamente com as duas mãos. Fazendo que meu corpo desse um solavanco , caindo sobre as pessoas que estavam na minha frente.
Ele fez este gesto e continuou a andar normalmente, no seu ritmo apressado. Eu também levantei mais que depressa, a tempo de ver sua fisionomia. Nesses poucos segundos, experimentei um sentimento de ira tão imenso, que sentia o sangue queimar na face. E num reflexo instantâneo, me pus a correr no meio da multidão seguindo o corpo do homem.
Talvez fosse um instinto de briga meio covarde, já que eu percebi que se tratava de um senhor de cabelos grisalhos, não me arrisco à idade. Mas a alguns dias atrás, não me animava a enfrentar nem uma formiga.
Consegui! Parei na sua frente. Algumas pessoas também pararam ao ver meu gesto. E gritei. Gritei o mais alto que pude:
____O senhor é louco! Olha pra sua cara, um velho! Com a idade que tem deveria ser o primeiro a dar exemplo de boa educação!
____ Mas você não sai da frente menina sonsa!
_____ Não sai simplesmente por terem outras pessoas na minha frente, e eu não quis derrubar ninguém no chão como o senhor fez!
Essas, são as únicas frases com nexo que eu me lembro, o resto foi só xingamento, tanto da minha parte como da dele.
Fomos nos afastando um do outro aos brados. E aquele pedaço de rua parado, assistindo a briga entre o velho e a moça com cara de menina.
Alguns minutos depois me dei conta do que havia acontecido, da reação inusitada tanto pra mim como para o velhinho e as pessoas que me olhavam na rua. Milhões de pessoas discutem todos os dias por coisa pouca, são eventos mais que normais. Mas naquele dia pela primeira vez, resolvi não deixar pra lá, resolvi simplesmente não me calar.
Foi um acontecimento tão insignificante, fisicamente falando, tão corriqueiro. Discussão boba que logo se esquece. Depois daquele momento, nem sei porque , passei e me tratar com mais respeito, e tratar os outros de forma mais justa. E o justo que falo não é se diminuir pra não ofender outrem. O justo é buscar o equilíbrio entre nosso espaço, o nosso orgulho, as nossas necessidades e a dos outros.
Sim eu aprendi a brigar. Brigar pelo que considero certo, pelo meu amor próprio, brigar pelos meus ideais, até mesmo os mais ultrapassados e utópicos.
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