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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Conto



Suor Frio

Estava exausto. Muito cansado. Dez horas dirigindo e nada . O calor o sufocava, e ao mesmo tempo um suor frio escorria pelo seu rosto. Ele só queria chegar. Queria vê-la. Nem que fosse essa a última vez. Não queria que terminasse assim. Poderia perdoá-lo, quem sabe o escutasse?
A estrada era horrível como a maioria das estradas deste país. Saíra de uma enfumaçada São Paulo e agora dirigia em uma estrada ruim em meio à fuligem negra do cerrado que se queimava. O suor frio insistia desta vez acompanhado de uma falta de ar aguda e o estomago vazio. Desviava de alguns animais mortos no caminho. Ela prometeu encontrá-lo no restaurante a uma da tarde e ele ainda ali, naquele fim de mundo!
O asfalto agora era liso. Resolveu acelerar. Mas o vento que entrava pelas janelas do carro, não amenizava o calor, tampouco o suor. Pisou mais forte ainda. Não poderia perdê-la. A ansiedade o consumia tomando-lhe os sentidos. Não queria enxergar nada ao redor, apenas o restaurante, ela. O velocímetro já marcava cento e trinta quando percebeu um vulto que se chocava contra seu carro, serrou os lábios, um barulho estrondoso veio junto. Alguns segundos e metros depois conseguiu frear. Lá atrás um corpo jovem estirado no chão, todo ensangüentado, aparentemente morto. Ele entrou em desespero, mas acelerou novamente. Aproveitou a estrada deserta e fugiu. Fugiu por duas razões: tinha medo das conseqüências que aquele cadáver traria e já era quase uma da tarde, ele queria vê-la! Seguiu o percurso ainda mais rápido com pressa e nojo. Medo do morto, medo de não encontra-la. Neste instante sentiu o peito sufocar.
Finalmente chegou ao restaurante, entregando na face todo seu transtorno, com uma respiração descompassada e ofegante. Estava paranóico, desconfiava até do garçom que apenas queria saber do pedido.
___Por enquanto nada...Estou esperando uma amiga.
A falta de ar agora vinha em intervalos menores e se prolongava a cada tentativa de respirar. O suor frio molhava todo seu corpo. O coração disparou e sentiu milhares de pequenas agulhas anestesiando sua carne. Já era uma e meia, ela não chegava. As batidas descompassadas foram desacelerando e tornando-se cada vez mais calmas, tão calmas que não se podia senti-las. De repente o ar esgotou-se por inteiro e ele não sentiu nem enxergou mais nada. Estava aparentemente morto.